segunda-feira, 9 de março de 2009

E O PALHAÇO, O QUE É?

Pra informar os curiosos, pra avisar os desavisados, pra auxiliar os interessados... Vamos colocando aqui, sob o título "E O PALHAÇO, O QUE É?", algumas considerações que podem iluminar, informar, avisar... A primeira é essa que aí vai:



Antes de discorrermos sobre a origem do palhaço tal como o conhecemos hoje (caracterizado pela cor, vivacidade e pela predominância do nariz vermelho), pensamos ser de grande importância nos remetermos a figuras datadas de séculos antes de Cristo e as quais acreditamos partilharem da mesma matriz cômica do palhaço.

Segundo Alice Viveiros de Castro, estes tipos estiveram inicialmente ligados a rituais sagrados e tinham a função de espantar o medo e o mal, o que era feito através da imitação de deficiências humanas – como a cegueira, a lepra, deformidades físicas, entre outros. Esta ridicularização culminava em uma explosão de risos por parte de todos, aliviando e quebrando a seriedade do culto. Esta autora cita, como exemplo, os monges budistas do Tibet: eles possuem a figura do Mi-tshe-ring – o velho bufão sábio – que atrapalha todas as solenes cerimônias religiosas, incapaz de se controlar e de fazer silêncio. Ele é o não-zen em tudo.

Reis e imperadores sempre tiveram em suas cortes um bobo, que participava de sua intimidade e exercia certo poder de influência sobre eles. Encontramos como exemplo os anões ou corcundas que assumiam este papel nas cortes egípcias, como o pigmeu Danga, cujo nome é guardado há quatro milênios, ou o bufão chinês Yu Sze, que é tido como o responsável pela paralisação de uma reforma da Grande Muralha ordenada pelo imperador Shih Huang-Ti e que estava levando à morte milhares de trabalhadores.

Mas foi na Idade Média que esse bobo se fixou no imaginário popular como o "bobo da corte". Ele é comumente representado com roupas coloridas repletas de desenhos geométricos, chapéu cheio de pontas, na mão, um cetro – a ‘marotte’ –, símbolo da loucura e muitos guizos espalhados por todo o corpo. Esta figura encontra-se representada e foi muito difundida pela carta coringa do baralho. O coringa originou-se da 22ª carta do Tarô, o primeiro baralho europeu, surgido na Itália no século XVII. Ao contrário das outras cartas, esta não possuía nenhum número e ficou conhecida como il matto (“o louco” na língua original). Segundo o Tarô, ela se refere à liberdade, algo extremamente próximo dos “bobos da corte” e do palhaço.

(Retirado de O TRICKSTER E O PALHAÇO: A PERMANÊNCIA DA TRANSGRESSÃO, de Aureliano Lopes da Silva Junior)

Nenhum comentário: